terça-feira, 30 de setembro de 2008

Em crise

A minha pessoa está em crise. Não sei se passageira, se profunda.
Perdi a capacidade de me avaliar.
Sinto que me conheço tão bem quanto me desconheço.
Nutro segredos de mim mesma, eficazmente entranhados num inconsciente que não flui à consciência.

Vivo numa clivagem e muitas vezes sinto que não me identifico com o mundo e com os outros. Sinto-me um ente alternativo no meio de comportamentos padronizados.
Espero demasiado daquilo que nada recebo.
Oiço as conversas dos outros e parecem-me despropositadas, destemperadas, sem conteúdo e sem teor.
Tenho tanto medo que o amargo passe a ser o paladar da minha vida.

Ainda me restam vontades, mas sinto que poucas. Com medo de as perder agarro-me a uma… a vontade de sair desta crise.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Em mim





Há em mim vontades tímidas,
Um Sol de Inverno
Uma paleta de cores ténues

Há em mim sonhos por desbravar
Sequelas de mágoas
Receios hegemónicos

Há em mim lutas ferozes
Amores por dar
Emoções sentidas

Há em mim solidão
Gente que não fala
Sentimentos estranhos

Há em mim pedaços do que sou
Confabulações intrincadas
Desassossegos meus

sábado, 6 de setembro de 2008

Catarse

Há um mês fizeste anos. Já eras oficialmente idoso como me disseste ao que prontamente te corrigi dando-te o estatuto de sénior. A palavra e o conceito de idoso não te assentavam, pois a experiência de uma vida ainda se aliava a uma vivacidade, que embora discreta, facilmente deixavas entrever. Fomos jantar fora, a data era de comemoração e além disso no dia seguinte entraria de férias o que me oferecia uma sensação de tranquilidade.

A espera pela hora de jantar foi feita na minha varanda, contemplando aquela vista que nos enche os olhos e envolvemos o ambiente de som de conversas triviais e de algumas gargalhadas. Jamais esquecerei este fim de tarde, descontraído, em que a conversa fluiu sem pressas, assim como jamais voltarei a contemplar aquela vista da mesma maneira.

Seguimos para uma esplanada à beira-mar e num ambiente informal comemos e bebemos uma refeição agradável. Sei que não gostávas propriamente de fazer anos, porque o peso da idade não te era indiferente, mas gostavas dos mimos inerentes a este dia.

Dias depois rumaste a Sul ao nosso encontro e gozámos juntos uns dias de férias, serenos, com muita praia e Sol e em que demos ao descanso o direito de se impôr. Não houve alertas nem sobressaltos de que algo não estaria bem. Não houve qualquer índício que nos levasse a crer que o bem estar que sentiamos não era verdadeiro. Deixámo-nos levar à velocidade do tempo e ao simples prazer de estarmos juntos que, sem o sabermos seria a última vez.

O último dia que te vi foi passado em família, num ambiente que sei que tanto apreciavas e que hoje tanto se ressente com a tua ausência. Sentados à mesa disseste, como tantas vezes já havias dito, que gostarias de viver até aos 100 anos, e eu sei que era verdade. Eu sei que gostavas muito de viver.

Mas depois, depois numa manhã foste levado pelo vento, numa rajada implacável, que de tão forte e tirana não nos deu qualquer hipótese de te agarrar. A vida pode ser tão frágil, tão avassaladoramente frágil. E esse vento trouxe o vazio, o desespero, a angústia, a incredulidade, e dor muita dor.

É tão difícil saber que já não existes para além das nossas memórias. Revejo-te em tanta coisa minha mas não te vejo. E dói, dói muito. Sinto-me a viver numa redoma onde o ânimo e a alegria não encontram a porta de entrada e tento aprender a viver de novo ainda que assaltada por mil e um receios que não consigo evitar.

Tento erguer as minhas armas na luta contra estes sentimentos destruturantes, talvez a escrita possa ser uma delas, mas o alívio parece que tarda a chegar.

Novamente surge a esperança de que o tempo possa ser o calmante da vida.



Nota: obrigada pelos comentários ao meu post anterior. Dirigiram-me palavras lindas e sensíveis que me reconfortaram. É bom sentir que a empatia faz parte deste mundo. Os meus mais sinceros agradecimentos.