quarta-feira, 25 de junho de 2008

Antagonismos

Há coisas que só me fazem sentido se existir o seu oposto. Como se o seu desfruto dependesse da presença do seu contraditório. O barulho se houver silêncio, o preto se coexistir o branco, a terra se observar o mar. Deve ser por isso que gosto da estabilidade e da mudança quase em iguais proporções.

Preciso da estabilidade para me reencontrar e necessito da mudança para me redescobrir.

A estabilidade faz-me sentir segura, por saber que posso contar com algo que jamais me abandona, porque me oferece um porto de abrigo e me permite viver sem sobressaltos. A mudança faz-me falta para descobrir novos mundos, para conhecer para lá da minha normal existência, para me distanciar da monotonia e me deixar envolver pelo prazer do desconhecido.

A estabilidade é a minha bússula mas a mudança é o que me faz querer caminhar.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Decidir pela eutanásia de um amigo de 4 patas não é fácil. Mesmo quando o racional está do nosso lado e os factos não nos permitem ter dúvidas quanto ao seu sofrimento, sermos nós a dar a ordem de acabar com uma vida é uma coisa que abala.

Falo nisto porque tive de o fazer há uns dias. De repente vi-me confrontada com a decisão urgente de escolher entre o binómio "vida com sofrimento/ morte com dignidade". Deixei-me levar pelos argumentos da lógica mas o lado emotivo jamais me abandona e não consigo deixar de pensar que gostaria muito que tivesse sido a própria vida a tomar essa mesma decisão.

Todos os animais que temos são especiais, e quem como eu gosta da sua companhia, sabe do que falo quando digo que todos eles são diferentes, com personalidades próprias e a ocupar o seu próprio estatuto na nossa vida. Esta minha gatinha não fugiu à regra e por isso deixar-me-á sempre saudades e a mágoa de me ter imposto ao seu destino.

Sei que ela me perdoará, pois se há coisas que os gatos não gostam é de perder a sua dignidade, mas resta-me aprender eu própria a conviver com esta situação e a aceitar que para onde quer que ela tenha ido o sofrimento já não a acompanha.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O "senhor do adeus"

Foto: www.olhares.com

Há personagens que fazem parte da nossa vida sem que com elas tenhamos trocado uma só palavra. Habituamo-nos à sua presença e são como que património da nossa vivência. Hoje apeteceu-me falar de uma destas personagens. Há já muito que lhe quero dedicar um post e hoje resolvi finalmente fazê-lo.

Escolhi-o porque passo por ele todos os dias e porque é suficientemente carismático para me roubar algumas palavras escritas. Esta personagem soube atribuir a um corriqueiro gesto do quotidiano, um significado especial e misterioso, levando-nos a pensar que tipo de vida se esconde por detrás de um aceno.

A personagem de que falo é o “senhor do adeus” uma personagem que os lisboetas conhecem e que, todos os dias desde há alguns anos, se dirige para as zonas do Saldanha (à noite) e Restelo (ao final da tarde) para acenar ininterruptamente, e sempre com um sorriso pueril nos lábios, para os carros que passam. Este ritual obsessivo, tem tanto de enigmático como de desconcertante, e se não fosse tão real poderia julgar tratar-se de um verdadeiro mito urbano.

Eu devolvo-lhe sempre o aceno e por perceber que o faço feliz, sinto-me também eu feliz. Afinal de contas, assistir à alegria dos outros faz-nos ficar contagiados por ela. Tal como eu, também os outros carros que passam se envolvem neste ritual. E é ver todos os seus ocupantes a buzinar-lhe, com braços de fora em explícitos acenos acompanhados de uma remessa de beijos e de sorrisos. O “senhor do adeus” é na realidade um senhor originador de bons afectos. E há contentamento nos seus olhos quando as pessoas manifestam esses mesmos afectos.

O “senhor do adeus” comove-me pela sua preserverança, pela simpatia que despoleta em quem passa e por emanar aquela dose de loucura que o faz estar envolto em mistério. Falo de um senhor que parece retirado de um filme dos anos 50, com uma figura que só por si não passaria indiferente, alto, esguio, de cabelo ondulado todo branco, com óculos de massa preta e porte aristocrático.


Depois de muito tempo a recorrer somente à minha imaginação para reconstruir a sua história de vida, descobri recentemente que o “senhor do adeus”, que afinal prefere ser chamado pelo “senhor do olá” se chama na realidade João, tem 76 anos de idade e o seu motivo para elevar o aceno a uma forma de vida, é a solidão com que se deparou há uns anos após a morte da sua mãe. Sente que acenar é a forma de comunicar e de sentir gente.

Por trás daquela figura alta e esguia de trajes clássicos mas marcantes, esconde-se alguém que fez deste périplo a sua razão de existir e tornou a sua pessoa num ícone da cidade de Lisboa.

A mim mostrou-me que um simples aceno tem a capacidade de me pôr bem disposta.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Pedaços de Portugal por estes dias

Por estes dias passeei por alguns pedaços de Portugal. Apesar de termos zonas descaracterizadas, sem qualquer planeamento urbanístico, outras temos que são autênticas pérolas e que fazem deste país à beira mar algo que vale bem a pena visitar.








Eu sou um exemplo de moura que gosta muito do Porto. Depois de ter visitado esta cidade inúmeras vezes em trabalho, só mais tarde descobri que os olhos que se levam quando se visita uma cidade em trabalho não são os mesmos que se levam quando se a visita em lazer. Refeita da miopia que durante anos me assolou, aprendi a gostar, e muito, desta cidade que vive enamorada do seu rio Douro e que tem nas ruas que dele circundam, os seus pontos atractivos. Por isso não passo um ano sem a visitar porque a sua dinâmica forte permite que a cada ano conheça espaços novos capazes de satisfazer as mais variadas exigências de procura.










Posted by Picasa
Como podem reparar, sou apaixonada por cidades amantizadas do mar e não dispenso uma paisagem que me ofereça a cor azulada das águas. Estas últimas fotos mostram pedaços de mais duas cidades situadas nas margens direitas de rios, um conhecido pelos cacilheiros e outro pelos seus golfinhos.
São pedaços de um Portugal bonito.

segunda-feira, 9 de junho de 2008


Ainda hoje as festas dos santos populares me causam bons afectos, resquícios de uma infância passada a saltar à fogueira e a pedir pela vizinhança “uma moedinha” para organizar a festinha no bairro.
Não sendo eu propriamente dada às tradições, gosto destas festas coloridas, aromáticas e patrocinadas (geralmente) pelo calor dos dias bonitos e grandes.

Não ando nas marchas mas não resisto aos manjericos e à sardinha assada, não passeio por Alfama nestes dias de muita afluência mas gosto de saber que as suas ruas estão enfeitadas, envoltas em animação e num frenesim festivo.

Não vivo estas festas no seu âmago mas gosto de as sentir por perto, como se a sua presença me transportasse para os tempos em que estas marcavam o início das férias escolares e das idas frequentes à praia, do convívio na rua nas noites quentes, de uma paz interior que só na meninice se sente.

A vivência dum costume popular numa cidade cada vez mais impessoal e urbana como Lisboa revela que é possível coexistirem os dois mundos oferecendo a quem nele vive a modernidade em convivência pacífica com a tradição.

sábado, 7 de junho de 2008

_Imagens que me inspiram


Campo alentejano adornado por pedaços de algodão no céu.
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domingo, 1 de junho de 2008

E o prometido...

Ao S. Pedro santo do tempo,
tenho aqui de agradecer,
deu-nos uns dias serenos
com algum Sol e sem chover


Deixo aqui estes versinhos
para ver que sei cumprir
vou comprar o manjerico
para neles o exibir


A sardinha vem depois
que a de agora não é boa
vou juntá-la ao bailarico
pelas ruas de Lisboa


Mas já agora que iniciei
esta senda dos pedidos
Mande daí mais calor
com efeitos menos tímidos


Ao S. Pedro santo do tempo,
termino aqui este canto
posso não ter grande jeito
mas fi-los com grande encanto