"A alegria ou euforia é o encontro festivo com o outro. É o prazer da inundação do ser no abraço libidinal.E assim, definimos o investimento do objecto como um movimento da líbido para o outro, que, no seu percurso, investe o próprio. O prazer vem portanto da actividade de estar com... Nasce do exercício da relação libidinal. Por outras palavras: o investimento objectal acompanha-se de um investimento narcísico. É o estado amoroso.
A dor, a tristeza, é o deserto relacional. A ausência do outro para investir; o que reflexamente desinveste o próprio. É a hemorragia da líbido através da ruptura da relação. Rompido o sistema relacional Self-objecto, o indivíduo sangra e sofre.Perdido o objecto, não há apelo ao movimento libidinal. É então a queda da líbido, que, para não se esgotar na sangria da tristeza, abandona o Self e se refugia no Id (como a seiva das árvores, durante o Inverno: reflui para as raízes).Para não cair na apatia, na impotência e no desespero, pela certeza da irreversibilidade da perda e a possibilidade da construção imaginária de um novo alvo. E, deste modo, sair do investimento nostálgico do objecto perdido.
A elaboração da perda faz-se, assim, pela mentalização do desprazer.Fazer algo da dor: criar, pela invenção do imaginário, no espaço dolente da falta. Sonhar... enquanto não se pode realizar. Jamais desistir. Porque a "morte", essa, é "vazia; nem dor nem alegria".
Viver, apesar de... apesar da perda, apesar de tudo."
Excerto de um texto de António Coimbra de Matos in "A Depressão"