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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Aquilo que sinto

Já foi eloquentemente descrito no 469. do "Livro do dessassossego" de Bernardo Soares.


"O próprio escrever perdeu a doçura para mim. Banalizou-se tanto, não só o acto de dar expressão a emoções como o de requintar frases, que escrevo como quem come ou bebe, com mais ou menos atenção, mas meio alheado e desinteressado, meio atento, e sem entusiasmo nem fulgor."


Talvez este estado de espírito mude...talvez não.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Porque gosto quando ela se aproxima


É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!

Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!

Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...

Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal! Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...

Florbela Espanca

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Um copo vazio está cheio de ar

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar

É sempre bom lembrar
Guardar de cor
Que o ar vazio de um rosto sombrio
Está cheio de dor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade
A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

Gilberto Gil

Escolhi estas palavras como etiqueta do meu estado de alma. Se por um lado me sinto como um copo vazio, cujo ar ocupa o lugar daquilo que perdi, por outro lado sei que a dor que emana desse vazio é apenas metade da minha essência, que apenas se vê completa com o aconchego de uma outra metade, mais alegre e optimista.
Estas palavras também demonstram que mesmo no vazio mais evidente, existe algo que o preenche, ainda que esse algo seja invisível, ainda que esse algo seja demasiado subtil, ainda que para o conhecermos seja preciso ver e não apenas olhar.
A pouco e pouco vou tornando este ar que preenche o meu vazio mais palpável, mais evidente, mais aromático. Vou abandonando a minha miopia e vou-me permitindo ver que tenho muito para encher este copo.
Oxalá um dia o transborde!

segunda-feira, 28 de maio de 2007

“Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho.
Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada.

Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão. Não me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer falado à costureira que, cerca da nove horas, volta sempre a esquina da direita.

O sonho que nos promete o impossível já nisso nos priva dele, mas o sonho que nos promete o possível intromete-se com a própria vida e delega nela a sua solução. Um vive exclusivo e independente; o outro submisso das contingências do que acontece”

Fernando Pessoa