Os grãos de areia desta praia guardam segredos meus da mesma forma que eu conheço de cor a temperatura das suas águas e o sabor do seu mar salgado. Foi palco privilegiado de uma adolescência recheada de muito Sol, de pegadas percorridas em dunas sem acusar o mínimo cansaço, de recordações de aromas de uma flora seca e espinhosa, de gargalhadas perdidas num areal cujo fim apenas era conhecido pelo vento que as levava, de beijos trocados com sabor a Verão e temperados pela paixão. Areias brancas e finas que na minha memória ainda se colam aos meus pés enquanto corro do primeiro mergulho do dia.
Hoje os grãos de areia desta praia transformaram-se, vão ser pisados por outras gentes que não aquelas da cidade que a reconhece como sua. Hoje esta praia está organizada, bonita, charmosa, aburguesada, preparada para receber oferecendo o melhor do que o turismo tem.
Enfeitada por uma arquitectura primorosa, por jardins impolutos, pelos azuis contrastantes do seu mar e das inúmeras piscinas que a ornamenta, esta costa paradisíaca ganhou beleza pela mão humana ao mesmo tempo que perdeu em simplicidade, pacificidade e naturalidade, reconhecíveis apenas por quem a conheceu por desbravar.
Por isso as gentes da cidade que a olha de longe sentem-se traídas, furtadas a um património que sentiam como seu e receosas do futuro lhes reservar um acesso desigual.
Nada será igual é certo mas naquelas areias continuam os meus segredos, a minha herança deixada a uma praia que não sendo minha, é de toda a gente e não é de ninguém.
3 comentários:
Tróia, certo?
Também conhece alguns segredos meus... que lá ficarão guardados.
Obrigada pelo apoio no meu blog.
Beijokas
Troia…
Onde andei de helicóptero pela primeira vez e lembro-me de ter assistido a um concerto debaixo de água, numa piscina.
Há uns anos atrás foi um acontecimento. Tínhamos de mergulhar e aguentar o mais possível para apreciarmos o espectáculo.
Foi mesmo uma experiência e tanto.
Muito obrigada por esta recordação, assim por acaso.
E pronto lá revelei os meus segredos em Troia.
Bjs daqui do Hemisfério Sul
Amiga,
Como tu, também observo, de longe, as alterações que Tróia vai "sofrendo". Entendo a tua "nostalgia", embora eu não tenha tanta ligação àquelas praias, também lá passei muitos bons(e outros nem tanto) momentos - coisas da adolescência...
Mas de areias... contigo... não posso não associar a umas areias brancas e finas como farinha, numa água quente, num outro continente e um dueto, cantando: "Entre por essa porta agora..."
Desculpa não ter nada a ver... mas adorei recordar...
Sorrisos muitos, e um beijo
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