quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Outros Carnavais

O Carnaval hoje em dia já não me diz grande coisa, tirando o facto de ser uma ponte garantida no calendário. Mas nos meus tempos de criança foi amado e desejado como o brinquedo preferido.

Acho que gozei tanto o Carnaval que hoje posso me dar ao luxo de prescindir do seu desfruto. Sim é certo que o Carnaval é adorado por todas as crianças e que, por conseguinte, tal adoração não me distinguia das demais, mas a grande diferença é que o Carnaval para mim se prolongava durante todo o ano. A razão por detrás de tão longo deleite era a de que cresci a ver a a minha avó a conceber, fazer e alugar fatos de Carnaval.
Modista reformada, viu nos fatos de Carnaval a fórmula de prolongar a sua já longa actividade profissional com a diferença de que a estas peças era adicionado o carinho e a paciência típicos de quem já não é jovem e de quem trabalha apenas pelo prazer colhido. Inspirava-se em tudo o que lhe chegava ao seu pequeno mundo, revistas, televisão, livros e até nas minhas cadernetas. Tudo servia de insight para o início do seu processo de criação, onde a imaginação imperava e a criatividade era rainha.
Foi a única vez na vida que fui modelo. Foi a única vez na vida que fui tão assídua de retrosarias e que me vi tão frequentemente circundada por lantejoulas e galões, bordados e tules, fitas de cetim e cordões, que me assoberbavam os sentidos e encantavam o meu coração infantil.
A magia de poder viver múltiplas personagens, o dar vida a desejos escondidos, o transformar-me noutro eu, o fascínio por condições diferentes da minha, tudo junto e na quantidade certa faziam os momentos carnavalescos autênticos pedaços de satisfação. Ainda que por momentos fui fada, chinesa e espanhola, princesa e dama antiga, bailarina, finlandesa, holandesa e tailandesa, varina e nazarena, fui noiva do Minho com direito a véu e filigrana, fui mil e uma coisas mais. Vesti fatos sem nome, pelo prazer de fantasiar e porque os nomes podem ser redundantes quando o figurino tudo diz. Fui feliz!
No entanto, não são dos fatos que conservo as maiores saudades, nem do prazer de vesti-los e ver a sua elaboração, nem das cores e texturas dos tecidos, sinto essencialmente saudades da fada que os criou porque sem a sua magia nada teria sido o mesmo.

10 comentários:

  1. Gostei muito deste teu aroma de Carnaval...por momentos fez-me regressar à minha infância.
    Um grande beijinho e bom fim de semana...

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  2. E aqui está um Carnaval jamais esquecido, sempre recordado com carinho e ternura.
    Um grande beijo para ti,
    Pintas

    Já estão os ingredientes...

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  3. Que bonita homenagem amiga... Realmente, existem pessoas que se sobrepõem aos momentos.

    Beijocas e bom fds (prolongado)

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  4. Hehehehehehe!
    Eu n tinha uma avó costureira mas tinha uma mãe cheia de criatividade e bom gosto que fazia de tudo para nós ver sorrir, inclusive fantasiar-se também. Era muito divertido.
    Com o passar dos anos tb fui perdendo o gosto. Agora´, só n fujo se n puder LOL!
    Beijo e bom carnaval

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  5. Amiga, adorei o teu post. Nunca fui mt dada ao carnaval, nem mesmo em criança, mas a forma apaixonda com que descreveste o trabalho da tua querida avó, deixou um gostinho especial no ar.
    Um grande beijinho doce e um óptimo fs prolongado (sortuda!!)

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  6. Amei este teu post...por momentos viagei no tempo. agora o carnaval pouco me diz também, e só uma ocasião para eu fugir da confusão..
    uma beijoca grande
    tica

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  7. Amiga, que já viveu um Carnaval assim realmente já viveu tudo do Carnaval... e sente-se que quem te proporcionou esses momentos é muito especial para ti...
    BJs

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  8. Acho que tudo na vida tem uma época. Depois passam e ficam as recordações, as boas e as menos boas.

    Essa é uma das boas.

    Beijos

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  9. Não gosto mt do carnaval.principalmente das brincadeiras parvas mas...adoro ver os fatos e o hambiente
    Beijufax

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  10. e são boas as tuas recordações....e eu acabei também por recordar a minha infância...ai

    beijocas

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